O RISCO PARA STARTUPS COM A FALÊNCIA DO SVB

Índice

Mesmo com um histórico de 40 anos de serviços junto a startups, o SVB não foi capaz de suportar as terríveis notícias nos veículos de imprensa, o que potencializou ainda mais a sua situação frente a seus clientes. Nesse artigo buscamos esclarecer o que de fato ocorreu para o banco entrar em colapso e de que forma isso afetará o futuro das startups.

1. O que de fato aconteceu com o SVB?

Do momento em que a notícia sobre o SVB (Silicon Valley Bank) chegou aos noticiários, comunicadores, canais tradicionais de tv e influenciadores deram início a uma onda de histeria, pânico e especulação, não só sobre a situação do banco e seus clientes, mas também sobre o cenário futuro do investimento de capital de risco em startups. Alguns foram ainda mais trágicos e tentaram vincular o fato com o fim dos bancos digitais, classificando o evento como o início de uma nova crise como a de 2008.

É bem verdade que a quebra de uma empresa nunca é algo para se tranquilizar – ainda mais uma empresa como o Silicon Valley Bank que concentrava boa parte do dinheiro de startups americanas –, é momento para ficar alerta, mas também para refletir e esclarecer fatos e, ao final, tirar lições disso.

O que não se comentou com igual relevância é que o governo dos Estados Unidos auxiliou o banco a equilibrar suas contas, injetando US$ 2,25 bilhões de dólares, e este conseguiu quitar o que deviam aos seus correntistas, que fizeram saques imediatos temendo pelo pior.

Também não se comentou que semanas antes do estopim, já havia rumores de uma possível falência entre a comunidade investidora e as “Venture Capitals” (fundos de investidores de risco que financiam startups), que alertaram e incentivaram aos seus patrocinados que retirassem suas aplicações do banco.

Se hoje parece tão arriscado investir em startups, não era essa a visão do mercado há cerca de 2 anos, quando houve um “boom” de aportes em empresas desse segmento, que consequentemente designaram seus recursos a bancos como o SVB. 

Esse, por sua vez, cometeu um erro que custou sua vida: canalizar esse dinheiro em títulos públicos de longo prazo e hipotecas privadas, que foram muito desvalorizadas devido à alta na taxa de juros dos Estados Unidos, indicando prejuízo certo para a instituição. 

Com essa informação, não foi necessário muito tempo para que os poupadores e correntistas do banco exigissem saques imediatos. Nas palavras do empresário e financista José Kobori que deu um parecer sobre o caso: 

“O SVB investiu uma boa parte dos recursos disponíveis em títulos do tesouro americano de longo prazo, já a sua base de clientes e depositantes não era tão pulverizada como na maioria das grandes instituições financeiras. Nesse caso, com certeza houve imprudência ou imperícia na regra de equalização de prazos, riscos e magnitudes de capital. Com inflação alta nos Estados Unidos, era, além de muito previsível, muito provável que as taxas de juros americanas seriam elevadas pelo FED, o Federal Reserve, banco central norte-americano, e uma elevação nas taxas de juros causa um impacto muito maior nos ativos de longo prazo.”

Em suma, com um prejuízo de cerca de 10 bilhões de dólares e um desbalanço entre ativos ilíquidos e passivos exigindo liquidez imediata (depositantes), a falência era praticamente certa, pronunciando a necessidade de uma intervenção estatal, com o FED se comprometendo não só a garantir depósitos – acima dos US$ 250.000,00 – como também a comprar os títulos públicos do banco, de forma a amortizar seus prejuízos no caso de uma liquidez imediata.

2. Como ficam as startups depois da falência do SVB?

O termo startup foi cunhado por volta da segunda metade do século XX para referenciar empresas jovens, associadas a novas tecnologias e com grande potencial de crescimento devido ao impacto que trazem consigo para toda uma cadeia. Facebook, Uber e Ifood são ótimos exemplos de como uma startup consegue alterar toda uma lógica de funcionamento de um segmento e até mesmo a maneira como consumimos.

Devido a sua grande relevância e transformações que trazem, seria um equívoco pensar que esse é um negócio que vai perder a notoriedade e a atenção de investidores. Mas, o que certamente pode-se afirmar é que o capital investidor vai ser mais rigoroso e ter mais cautela quando for investir nesse mercado. 

Como já mencionado anteriormente, os Venture Capitals já estavam cientes da situação do banco semanas antes e de prontidão acenaram para suas financiadas sobre o risco de deixar dinheiro naquela instituição. Os critérios para avaliação de risco tendem a ficar cada vez mais apertados e as empresas devem fazer um controle cada vez mais profissional de seu caixa, bem como, diversificar na escolha de uma instituição para depositar dinheiro, como indica Benjamin Gleason, empreendedor no mundo das startups, fundador do GuiaBolso e da fintech Kamino.

No Brasil, apesar do grande alarde e de alguns clientes do banco serem startups brasileiras, o impacto não se apresenta de forma tão significativa por aqui. Para Daniel Grossi, cofundador e diretor da Liga Ventures, empresa que atua como uma Venture Capital, o impacto aqui gerado é a cautela que os investidores tendem a ter em relação a investimentos de risco, como as startups. Com a alta na taxa de juros, a tendência é que o capital de investimento se concentre na renda fixa, por ser um modelo mais atrativo e que garante maior segurança. Mas não é de se negar que o comportamento dos investidores e empresas aqui no Brasil foi notável, tendo sido rápidos em reagir com a notícia.

No médio a longo prazo, as startups continuarão a se expandir e não deixarão de encontrar investidores dispostos a colocar seu dinheiro em investimentos de risco devido – como já mencionado – o grande potencial que essas empresas têm, segundo Gleason.

3. Quais as medidas tomadas pelas Startups?

Após sacarem o dinheiro do SVB, as startups têm procurado onde depositar seu dinheiro, algumas caminhando para outras fintechs, mas muitas optaram pelos grandes bancos tradicionais de Wall Street como: JPMorgan, Citi, Bank of America, Goldman Sachs, entre outros. O que tem gerado verdadeiras filas “nas portas” dessas instituições financeiras e uma demanda de bilhões de dólares que exigiram uma operação concentrada desses bancos para conseguirem absorver os novos clientes.

4. Conclusão

O banco SVB foi imprudente no direcionamento dos depósitos de seus correntistas em um tipo de investimento, sofrendo e muito com a interferência de uma circunstância externa, a alta na taxa de juros, da qual não estava preparada; por outro lado, as startups que detinham conta no SVB também aprenderam a não deixar dinheiro em apenas um lugar. Tanto um como outro aprenderam, da pior maneira possível, a importância da diversificação e o que significa a máxima “não coloque todos os ovos na mesma cesta”.

Empresas e investidores também levam como lição que devem ficar de olhos bem abertos para onde seu dinheiro está sendo investido e não procurar apenas por lucros única e exclusivamente por serem empresas inovadoras e de alto crescimento, mas também visar por segurança em empresas que fazem o dever de casa quando o assunto é controle financeiro.

Risco por si só traz aversão para quem ouve essa palavra, no entanto, não deve ser impedimento para colocarmos nossas fichas em uma oportunidade. O problema é não querer enxergar que o risco algum dia pode atingir você.

 

Vinicius Reckziegel da Silva

LOCUS IURIS
LOCUS IURIS

consultoria e assessoria jurídica

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